'IT: Capítulo 2' mantém qualidade, mas acaba repetindo fórmula do 1º
Com mais trama para contar, longa acaba se estendendo na duração, mas ritmo frenético de acontecimentos não deixa experiência se tornar cansativa

IT: Capítulo 1 foi um sucesso estrondoso, agradando desde fãs do autor — Stephen King — do livro homônimo até aqueles que não gostam tanto de filmes terror, se tornando uma boa porta de entrada para o gênero.
Tudo isso para demonstrar como a tarefa desta segunda parte era ingrata. Para piorar, como comentaram o diretor Andy Muschiette e a produtora Barbara Muschietti em entrevista ao R7, a produção não teve muito tempo para ser concluída, tendo início na estreia da primeira parte, dois anos atrás.
Mesmo assim, o longa consegue manter o bom nível encontrado em seu antecessor, misturando um pouco de comédia às inúmeras cenas tensas que não tendem a abusar dos famosos "jump scares", quando a imagem e o som enganam a audiência para causar um susto forçado.
Com um material base riquíssimo em mãos, o trabalho de compactar em um roteiro coeso todas as partes relevantes é feita com primor, deixando o produto exibido nos cinemas com poucas gorduras aparentes. Não que as 2h40 passem num estalar de dedos, mas tudo parece estar onde deveria, inclusive cenas mostradas como deletadas da "parte 1" que retornam e se encaixam perfeitamente nesta continuação.
Falando do que é um dos maiores chamarizes e principal diferença encontrada no novo longa, que entra em cartaz nesta quinta-feira (5), o elenco adulto entrega ótimas atuações e que, principalmente, condizem com as contra-partes infantís que tanto brilharam em 2017.
O roteiro contribui para que Jessica Chastain encarne uma Beverly insegura e submissa em relação aos homens, que James McAvoy trabalhe as inseguranças de Bill e até a ocasional gagueira soa extremamente natural. Já Bill Hader, James Ransone, Isaiah Mustafa, Jay Ryan e Andy Bean entregam sólidas performances, com destaque para os dois primeiros, que captam perfeitamente a essência de cada um de seus personagens e as estampe às vezes caricaturalmente, para que a sutileza necessária na maior parte do longa seja ainda mais destacada.
Outro nome que se deve deixar marcado quando falamos nesta nova encarnação em duas partes de IT é o de Bill Skarsgård. A performance como o palhaço Pennywise, tanto na versão maquiada quanto nos flashbacks, é sensacional. Toda a expressividade dos olhos e da boca está de volta e cada movimento na feição é proposital e traz maior profundidade ao personagem central.
Talvez o principal problema da sequência seja a repetição de elementos que deram certo. Que, no caso, sempre deram certo. É mais fácil assustar uma pessoa sozinha do que um grupo. Ainda mais utilizando os medos que cada uma tem. Mas a quantidade e, por vezes, a qualidade destes momentos assustadores deixam a desejar.
Para quem tem medo de palhaço, o filme segue como um prato cheio. Mas para aqueles que não têm a coulrofobia, a variedade de formas tomadas por Pennywise na encarnação anterior fazia com que os arrepios fossem mais abrangentes e a incerteza do que viria a seguir tornava a tensão ainda maior nas salas de projeção.
Outro problema são os dois extremos da projeção. Tanto a cena inicial quanto a definição da trama principal deixam a desejar. O primeiro por parecer apenas uma forma de demonstrar um preconceito e, talvez, celebrá-lo. Quanto ao final, creio que seja semelhante ao livro (ao qual não li), mas a forma como toda a crise é solucionada parece um tanto quanto simplista.
A trilha sonora segue sendo competente, com alguns temas de destaque muito marcantes, mas que, utilizados à exaustão na divulgação do longa, acabam por perder o impacto na hora em que se assiste à película.
Pelo tamanho do desafio que se apresentava à frente, com a grande recepção tida com o primeiro capítulo, o segundo longa consegue entregar uma experiência tão competente quanto. Como fechamento, a duologia está completa e com méritos, merece os louros que já colheu e ainda está por colher.